DISSOLVENDO-NOS NO DIVINO
13 de Novembro de 2013: Netuno Direto em Peixes
Sarah Varcas
Depois de cinco meses retrógrado em seu próprio signo (Peixes), hoje Netuno se prepara para voltar ao movimento direto.
Como energia arquetípica, Netuno pode ser extremamente difícil de se entender. Ele procura dissolver tudo o que toca, especialmente se nos identificamos com ele de alguma forma, seja num dom, uma função ou status, um relacionamento ou uma qualidade do nosso caráter ou espírito.
Em última análise, Netuno nos quer todos como um só, num estado de percepção compartilhada de que só existe UM e que cada um de nós é uma pequena parte dele. Qualquer coisa que usemos para nos separarmos uns dos outros é posta em discussão no mundo de Netuno.
É é por isto que, quando entramos em contato com a influência de Netuno, geralmente ficamos confusos sobre nós mesmos, nossa identidade, nosso valor e até sobre o que acreditamos ou não acreditamos. Todo mundo concentra em Saturno, Urano e Plutão as forças difíceis de serem enfrentadas, mas Netuno pode ser um desafio maior cujo impacto é muitas vezes negligenciado.
Por isso é importante focalizarmos Netuno de vez em quando e nos lembrarmos do que esse planeta evasivo está realmente tentando conseguir… em uma palavra – nada, coisa nenhuma.
Netuno nos quer sem identificação, indefinidos e indistintos. Ele nos quer tão totalmente fundidos com o Divino (o qual, é lógico, são vocês, eu e tudo no mundo), que não mais exista nenhum “eu”, “você”, “nós” nem “eles”.
Na verdade, o estado que Netuno nos indica não pode ser definido com palavras, não existe nenhum conceito que lhe corresponda. É simplesmente um estado de ser puro, um momento de clareza e presença que não tem nenhum nome, nenhum começo nem fim e nenhuma existência. Imaginem o estado mais tranquilo de ser e então entrem nele, tornem-se ele, dissolvam-se nele, e poderão ter uma noção ínfima (mas apenas a mais ínfima!) do que Netuno quer para nós.
Naturalmente muitos dirão que tranquilidade seria maravilhoso, assim como a dissolução das fronteiras que nos separam e dividem. No entanto, o ego pode ter uma visão muito diferente disso… e todos nós temos um ego!
Muitas vezes demonizado por estar entre nós e nossa iluminação, o ego é realmente um fato da vida humana e podemos muito bem nos acostumar com ele, porque uma das coisas mais importantes que podemos fazer neste planeta é desenvolvermos um ego funcional e saudável.
Qualquer esforço para transcendê-lo ou negá-lo antes de fazermos isso, pode ser uma receita para o desastre espiritual e emocional.
E é aí que entra o desafio de Netuno, pois diante do seu convite para liberarmos toda identificação e apego, nós encontramos a reação do nosso ego, que investe tanto naquilo que nos separa. E, ao vivenciarmos essa reação, podemos perceber se o nosso ego está saudável e se estamos conseguindo conviver com ele sem sermos controlados por ele.
Se entrarmos em pânico total diante da simples ideia de abandonarmos um determinado relacionamento que, no fundo de nossos corações, sabemos que já ultrapassou a data de validade, podemos estar certos de que nosso ego está lutando para manter um controle nada favorável ao nosso bem-estar maior.
Se nos depararmos com a necessidade de abandonar a riqueza material para seguir um caminho mais verdadeiro, e ficarmos paralisados pelo medo de termos que lidar com a falta de proventos financeiros, então saberemos que o ego, e não nós, é que está no controle.
E, sim, é claro que o ego somos nós e vice-versa, mas ele é também algo mais: o ego é uma carga energética investida em certos aspectos de nossas vidas, percepções e identificações, que nos dizem quem nós somos e julgam nosso valor de acordo isso. Netuno procura neutralizar essa carga e liberar essa energia para ser usada em outro lugar.
Porque, para Netuno, toda a questão do valor relativo é uma distração sem sentido que precisa ser dissolvida. Ele nos quer livres para conhecermos o Divino sem compromisso. Netuno localiza aquilo em que o ego se agarra e gradualmente transforma-o em pó diante de nossos olhos.
Seu valor subjetivo nos é revelado como nada mais que arrogância e sua qualidade, simplesmente ilusória. Podemos acolher essas revelações em nosso espírito, mas em nosso ego nós lutamos contra elas, procurando alguma rocha onde possamos nos agarrar, sabendo que “essa rocha é minha e me faz ser eu.”.
Mas lembrem-se de que Netuno não tem tempo para “eu” nem “você”! Na verdade, ele não tem nenhum tempo para o tempo, que também é uma ilusão – ele nos lembra, enquanto dissolve nossos relógios e calendários.
O desafio de Netuno, geralmente esquecido, mas frequentemente encontrado, é o de liberarmos tudo de boa vontade e considerarmos que somos nada, de modo a conhecermos tudo que há para conhecer, não intelectualmente, mas experiencialmente: aquele lugar que está além do que pensamos que somos e do que pensamos que nos faz assim.
Ao voltar ao seu curso direto, Netuno nos pede para soltarmos tudo e apenas sermos, e depois nos encoraja a ouvir a voz do ego que fala em tons de medo ou urgência sobre tudo que precisamos fazer, adquirir, ser e vivenciar. Ouvindo essa voz, podermos discernir nosso relacionamento com o ego e perceber quem está realmente no comando.
Como seres humanos, todos nós precisamos de um ego. Netuno age como um barômetro, mostrando-nos o quanto nosso ego está saudável e o quanto podemos nos liberar de suas identificações, transformando-o numa ferramenta que podemos pegar e largar, quando necessário para interagirmos com o mundo material, enquanto vivemos em outro lugar também, no lugar do Divino, onde o ego não tem nenhuma função e onde somos verdadeiramente livres.
Desejo a todos um dia Divino.
Sarah Varcas
Nenhum comentário:
Postar um comentário